Texto: Panorama da cultura bauruense no PandeZine #01 (Dezembro/2020)

Texto sobre a cultura bauruense publicado no fim de 2020, no primeiro "PandeZine", uma obra coletiva financiada pelo edital municipal da Lei Aldir Blanc em Bauru. 


Acesse o link abaixo para ler a edição completa:

Panorama da cultura bauruense atual: articulação e avanços

    O sucesso da aplicação da Lei Aldir Blanc em Bauru, que contemplou cerca de 500 artistas da cidade, é fruto de muito trabalho e organização de diversos grupos que atuam na área da cultura local há muitos anos. Entre eles, podemos destacar a atual gestão do Conselho Municipal de Política Cultural, que pavimentou o terreno burocrático para a efetivação da lei no decorrer dos anos de 2019 (quando ainda nem havia pandemia) e 2020, o Movimento Coletivo Samba, o MEAB (Músicos em Ação de Bauru), o Coletivo Fuzuê e o Movimento Revida, além do recém criado Fórum Regional de Cultura, entre os mais ativos da nova geração, bem como grupos com mais estrada no setor artístico do município, como a ATB (Associação de Teatro de Bauru), o Grupo Ato e o Expressão Poética, entre muitos outros artistas, que apesar de não fazerem parte destes coletivos também ajudaram a construir o cenário necessário, para que os mais de R$ 2 milhões que Bauru recebeu do Fundo Nacional de Cultura, pudessem chegar de fato até os artistas locais.

     A união em torno de um objetivo comum e a articulação de todos estes agentes demonstram um nítido amadurecimento do setor. Algo que não era visto na última década, quando apenas dois ou três representantes de alguns segmentos culturais exerciam seu direito de participar das decisões políticas, que definiam os investimentos públicos na promoção e difusão da arte e da cultura em Bauru.

 Empoderamento dos artistas

     Em minha humilde leitura, o empoderamento dos artistas bauruenses também pode ser entendido como a derrocada de um sistema antigo, que reinou absoluto nos últimos anos, onde produtores desprovidos de capacidade artística real, exploravam atores, atrizes, compositores, escritores, músicos e técnicos, entre outros, e ficavam com a maior parte do dinheiro captado do poder público para a materialização das obras de quem realmente eram os detentores do talento. A distorção era tamanha, que profissionais de outras áreas, como motoristas e seguranças, por exemplo, além dos próprios produtores, recebiam muito mais que os artistas que compunham as músicas, as executavam nos shows e eram os principais responsáveis pela presença do público nos eventos. Este triste cenário, que fez a arte bauruense de refém por mais de 20 anos, estimulou o aparecimento de diversas entidades culturais de fachada, que só apareciam na cidade na hora em que a secretaria de cultura de Bauru abria editais para oferecer os recursos públicos para os projetos artísticos da cidade.

Pauta comum

    Neste passado, não muito distante, os supostos grandes nomes da produção cultural bauruense só apareciam em reuniões públicas e de coletivos para defender seus interesses particulares e muitas vezes conseguiam ludibriar os artistas com propostas que nunca se concretizavam depois.

     Com a mudança promovida pela justa distribuição dos recursos da Lei Aldir Blanc em Bauru, a expectativa é que os artistas possam começar a produzir sua próprias obras, para que eles sejam os responsáveis pela captação de recursos públicos e possam destinar para cada envolvido em seu projeto a remuneração que achar adequada, sem influência de qualquer produtor renomado, que vai querer “morder” mais da metade dos valores arrecadados.

    Dentre as pautas amplificadas, destaco a questão da isonomia (igualdade) no emprego das verbas públicas entre os oito segmentos culturais reconhecidos atualmente pela secretaria de cultura de Bauru, já que atualmente teatro e música ficam com a maior fatia do bolo, enquanto audiovisual e literatura, entre outros, nem possuem acesso ao “jantar”.

    A intenção é que todos tenham condições igualitárias para lutar pela efetivação das Conferências Municipais de Cultura (que segundo a legislação em vigor, deveriam ocorrer a cada dois anos), culminando assim com a formulação da Política Municipal de Cultura de Bauru, que daria transparência às metas da secretaria de cultura, mas que nunca foi do interesse dos antigos representantes da arte local, já que ela resultaria no fim dos privilégios que eles gozam até o momento.

    Seguiremos juntos até a vitória! A participação de todos os artistas é fundamental para que a transformação da nossa realidade continue...

 

Paulo Eduardo Tonon (Músico, cineasta e jornalista)



 

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