Texto sobre o investimento público em Economia Criativa na Coréia do Sul (Fevereiro/2020)

 


A vitória de “Parasita” como o melhor filme do Oscar 2020 comprova mais uma vez a força da Economia Criativa.

Em 1998, diante de uma grave crise financeira, o governo sul-coreano apostou no investimento em cultura para transformar sua realidade. Na época, a falta de esperança predominava e havia altos índices de alcoolismo e suicídio entre os jovens. Este período foi bem retratado em diversos filmes do diretor Hong Sang-Soo, entre eles: “A mulher é o futuro do homem”, “Noite e dia”, “A filha de ninguém”, “Hahaha”, “Você e os seus” e “Certo agora, errado antes”.

O fato é que o governo da época acreditou nas pesquisas, que já indicavam que a Indústria Cultural cresceria mais que outros setores, como o de automóveis e até da tecnologia da informação, e passou a fazer aportes constantes e definir estratégias para desenvolvimento da área em conjunto com os artistas.

O dinheiro do Ministério da Cultura sul-coreano não só contribuiu para formação de profissionais de diversas categorias ligadas a arte, como também para ampliar seus públicos, ao longo dos últimos 20 anos. O resultado é que o estilo musical k-pop alcançou o topo das paradas do mundo inteiro, gerando movimentação econômica em turismo, moda, publicidade, mídia e cursos de coreano para estrangeiros, entre diversos outros avanços.

O principal deles, além de espantar a crise financeira do país, foi incentivar os jovens à mergulharem no universo das artes, o que diminui gastos com tratamentos contra abusos de álcool e drogas, e melhorou o relacionamento da Coreia do Sul com outros países, por meio deste “soft power” bem empregado.

A cereja do bolo é o fenômeno “Parasita”, que também ganhou os prêmios de melhor filme internacional, melhor diretor para Bong Joon Ho e melhor roteiro original. Ele transformou seu custo de 11 milhões de dólares em uma incrível arrecadação de 167 milhões de dólares. Isto até ontem, antes do Oscar. Um rendimento que nenhuma ação da bolsa de valores jamais teve e jamais terá em tão pouco tempo, mas que ainda deve crescer muito mais.

A consagração da obra em nível mundial consolida um trabalho de longo prazo de desenvolvimento de toda uma cadeia de serviços e de profissionais em torno da indústria cinematográfica sul-coreana, que deve ser encarada como um exemplo a ser seguido (e não retaliado ou censurado) pelo governo brasileiro.

Para quem gosta de números, em 2019, a Coreia do Sul, que possui área de cerca de 100 quilômetros quadrados e 51 milhões de habitantes, destinou aproximadamente R$ 6,4 bilhões para sua cultura. Enquanto que o Brasil, com mais de 210 milhões de habitantes em cerca 8,5 milhões de quilômetros quadrados, investiu somente R$ 1,9 bilhão em cultura (dado referente ao último ano do governo Temer, antes da extinção do Ministério da Cultura).

Ou seja, temos muitas possibilidades de crescimento se olharmos os artistas com o valor que eles realmente possuem.

Fora tudo isso, “Parasita” ainda resume a história da humanidade de forma simples e bem humorada. O filme é universal ao tratar da luta de classes e também vai ficar marcado para sempre como a primeira película que não é falada em inglês a receber o principal prêmio da academia de artes cinematográficas. E você, já viu “Parasita”?


Texto publicado por Paulo Eduardo Tonon em perfil de rede social no dia 10 de fevereiro de 2020.

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