Texto sobre necessidade de revisão da lei do Programa de Estímulo à Cultura de Bauru (Abril/2022)

Falta planejamento no investimento dos recursos públicos na cultura bauruense

Em relação a matéria publicada na edição do último dia 19 de abril deste JC, intitulada: “Bauru anuncia que dobrará valor destinado para Estímulo à Cultura”, após debate com integrantes de diversos segmentos artísticos da cidade, na audiência pública realizada na Câmara Municipal nesta mesma data, venho demonstrar publicamente a insatisfação da maioria.

Primeiro, por tratar-se de medida pontual, que afronta a necessidade de modernização completa da lei, debatida pelos artistas bauruenses desde 2017, no mínimo. Importante lembrar que desde sua instituição, o Programa de Estímulo à Cultura nunca passou por nenhum reajuste financeiro, apesar da correção anual estar prevista na legislação.

Segundo, pelo “anúncio” desconsiderar a limitação imposta pelo próprio texto da lei n˚ 5.575/2008, que destina apenas 30% do valor total do programa para projetos apresentados por Pessoa Física. Desta forma, a maioria dos mais de 500 artistas presentes no cadastro municipal de cultura já não seriam contemplados, o que facilmente faria com que novamente sobrasse recursos públicos da Secretaria de Cultura de Bauru, tal como, os mais de R$ 3 milhões que já deixaram de ser empregados no setor em 2021, à revelia da peça orçamentária aprovada pelo Legislativo.

Por fim, a aplicação de R$ 250 mil oriundo de emenda do deputado federal Rodrigo Agostinho na Lei de Estímulo à Cultura de Bauru também vai gerar uma infinidade de burocracia, tanto na avaliação de grande quantidade de projetos, quanto na liberação das parcelas (em três vezes, o que empurraria a conclusão dos projetos para o segundo semestre de 2023), além do imenso volume de recibos, notas fiscais e relatórios que seriam necessários para atender o previsto nesta legislação.

O ideal, para grande parte dos artistas bauruenses, seria a utilização dos recursos públicos em editais similares ao “Viva a Cultura” e “Lei Aldir Blanc”, por exemplo. Visto que eles já se mostraram viáveis nos últimos anos e contemplaram muito mais de 200 propostas cada um deles.

Vale ressaltar que esta é a única política pública para o setor cultural instituída por lei na cidade, que destina verbas para que os próprios artistas executem suas ações culturais. O investimento em arte e cultura, como já foi comprovado cientificamente em diversos estudos, diminui os gastos da prefeitura com saúde e segurança pública a médio prazo, entre outros benefícios para toda a sociedade.


Paulo Eduardo Tonon – produtor audiovisual bauruense

(Texto publicado na Tribuna do Leitor da edição do dia 26 de abril de 2022 do Jornal da Cidade)


Acesse também pelo link: https://sampi.net.br/bauru/noticias/2072009/tribuna_do_leitor/2022/04/falta-planejamento-no--investimento-dos-recursos--publicos-na-cultura--bauruense


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